quarta-feira, 24 de outubro de 2012

No Jardim

"Tête sacrée! enfant 
aux cheveux blonds"
V. Hugo
Recitava esta com muita alegria . . . 

Ela estava sentada em meus joelhos
E brincava comigo - o anjo louro,
E passando as mãozinhas no meu rosto
Sacudia rindo os seus cabelos de ouro.

E eu, fitando-a abençoava a vida!
Feliz sorvia nesse olhar suave
Todo o perfume dessa flôr da infância,
Ouvia alegre o gazear dessa ave!

Depois, a borboleta da campina,
Toda azul - como os olhos grandes dela -
A doudejar gentil passou bem junto,
E beijou-lhe da face a rosa bela.

- "Oh! como é linda! disse o louro anjinho,
No doce acento da virgínia fala -
Mamãe me ralha se eu ficar cansada,
Mas - dizia a correr - hei-de apanha-la".

Eu seguí-a, chamando-a, e ela rindo
Mais corria gentil por entre as flôres,
E a flôr dos ares, abaixando o vôo,
Mostrava as asas de brilhantes côres.

Iam, vinham, à roda das acácias,
Brincavam no rosal, nas violetas.
E eu de longe dizia: - "Que doidinhas!
Meu Deus! Meu Deus! são duas borboletas! . . .

Cassimiro José Marques de Abreu: nascido em Barra de S. João em 4 de janeiro de 1837, foi, sem dúvida, o mais popular dos poetas brasileiros e um dos mais notáveis líricos da segunda geração romântica; é o poeta do amor e da saudade.
O pai o destinara à carreira comercial, para a qual, entretanto, não sentia a menor vocação. Mandado para Portugal, dalí voltou quatro anos depois, então já minado o frágil organismo pela pertinaz doença que o devia levar em pouco ao túmulo; Faleceu em 18 de outubro de 1860, en Nova Friburgo.
O poeta pôde ainda ouvir, na laranjeira à tarde, cantar do sabiá;
Primaveras, versos publicados em 1850, é a sua principal obra.




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