domingo, 20 de março de 2016

Dia Nacional do Contador de Histórias


Comemoramos hoje, 20 de março, o Dia Nacional do Contador de Histórias!
Contar histórias e atrair a atenção do público não é coisa simples.
Uma pessoa para contar uma história precisa de muitas habilidades:
O Dom da Palavra, Presença;  Simplicidade;  Boa Memória;  Repertório;  Conhecimento e muito mais.
Hoje em dia, quem quer contar histórias precisa de tudo isso, além de muito estudo e pesquisa, pois o público está cada vez mais exigente. Ser Contador de Histórias é coisa séria.
Por exigir tanto de quem gosta e tem o dom de contar histórias, nós, os Contadores de Histórias,  estamos lutando para que esta Arte se torne uma profissão.
Profissão  que exige disciplina, prática e muito estudo e pesquisa.
Quem conta uma história sempre tem várias perguntas a responder:
Quando, Como, Onde e Porque me tornei  um contador de histórias?
Eu, por exemplo. Desde muito pequenina ouvi histórias de minha avó materna e de minha mãe, contadoras de histórias natas, pois utilizavam delas para educarem os filhos. Eram elas sábias mulheres.
Minha mãe,  com seus 96 anos de idade,  ainda hoje reúne grande público quando começa a contar algo de sua vida, do tempo e lugar onde nasceu. Enquanto conta ninguém pisca. Às vezes dão risadas, quando conta algo engraçado.
Antigamente, nos anos 50 ela  era uma jovem senhora e professora, com seus sete filhos, morando longe dos grandes centros, numa pequena vila sem luz elétrica, segurava sua lamparina, assentava-se a noite no fogão de lenha rodeada pelos filhos, seus sete tesouros e, descortinava histórias.
Eu lembro perfeitamente. Era muito belo este momento, pois era fascinante.
Demorei a começar contar histórias. Esperei demais, para entrar nesta Arte que sempre me  encantou.
Primeiro contei causos, pois aprendi com meu pai, também um professor que passou sua vida ensinando aos seus alunos matemática e física contando causos. Eu me encantava com tudo que ele contava, pois tudo era muito divertido.
As histórias, eu não sei por que razão,  deixei-as para mais tarde, quem sabe elas estavam maturando em meu subconsciente.
O fato é que eu só me dei conta de que podia contar histórias, depois que me aposentei. Tarde demais, lastimo, pois eu sabia desde pequenina naquela vila onde morava com meus pais e irmãos que seria uma contadora de histórias. Eu sentia isto quando ouvias as que minha mãe e avó contavam e, quando ouvia os causos de meu pai.
Nasci num lugar propício a oralidade. Lá tudo virava histórias. Seu povo era rico de palavras encantadas, de palavras que correm e andam em direção de uma roda de histórias.
Este povo com os quais eu convivi, inventava palavras e frases, buscava palavras antigas, floreava, encantava e até colocava magia em tudo. Tenho saudades dos meus tempos de criança.
A saudade é tanta que um dia escrevi sobre aqueles tempos, ao lado de minha mãe, minha primeira professora da Arte de Contar Histórias.
Naquele tempo ela tinha de ser realmente uma mulher sábia, pois tinha que inventar, se virar para fazer felizes os seus sete filhos, num lugar com tantas superstições, onde a vida era simples demais.

Para vocês a história que eu escrevi falando de minha mãe com seus sete filhos.
 
No aconchego de uma mãe

                Qual mãe brinca de pegar, esconde – esconde, correr, pular, fazer caretas e tudo mais com seus filhos em dia de chuva? Conheço uma que fazia tudo isto.
Lembro quando criança de uma mãe que acordava cedo, corria para o trabalho e voltava tarde, cansada e feliz! Adorava estar junto de seus filhos que ainda são seu maior tesouro.

                Tinha uma vida simples, mas cheia de aventuras. Como entreter sete crianças dentro de casa em dias de muita chuva, frio e vento? Ela conseguia porque, junto com os filhos, virava criança também! Corria de um lado para outro, escondia qualquer coisa para que procurassem, chutava bola, brincava com bonecas e o que mais pudesse inventar para animar seus pequenos. Tudo era possível.
                Os vizinhos e sua querida companheira de todas as horas, uma jovem que a ajudava na lida da casa, também madrinha de uma de suas filhas, observavam e deviam pensar “Que loucura! Como ela pode fazer tudo isto?”.

                Quando chegava do trabalho o marido não queria acreditar no que estava vendo!
                - Veia! - Dizia ele de maneira carinhosa como sempre a chamava - O que é isso? Você está louca?

                - Apenas brincando com nossos filhos, coitados, com chuva eles não podiam ir para o quintal! - Era a resposta que dava com um sorriso.

                - Só você mesmo! -  Respondia ele balançando a cabeça e olhando para cada um dos filhos. Ficava surpreso e ao mesmo tempo feliz vendo tanta alegria naqueles rostinhos suados. Imaginava que as brincadeiras já duravam horas!
                - Está anoitecendo - O pai, amorosamente falava - vamos mudar de diversão porque está na hora do meu noticiário no rádio.

                A mãe e os filhos deixavam a enorme sala e iam para a cozinha onde todos sentavam ao redor do fogão a lenha para ouvir as histórias que ela contava. Falava sobre reis e rainhas, príncipes e princesas, fadas e bruxas, animaizinhos e feras, assombrações, histórias bíblicas e até alguma passagem sua do dia a dia. Ia contando, contando até perceber os olhinhos fechando, fechando pelo sono que se aproximava.
                Como ela se encantava com aquela cena!

                Interrompia as histórias e levava-os para o quarto. E ali ficava acariciando suavemente cada criança até que todos dormissem. Voltava para a sala e dizia ao esposo: “Adormeceram serenos os nossos amados filhos. Vamos dormir também. Amanhã será outro dia.”.
                E era sempre assim. 

                Lembro perfeitamente de todos esses momentos. E meus irmãos também. Porque somos os felizes filhos dessa mãe tão especial que sabia como ninguém transformar os dias ruins em cenários de ternura, encantamento e aventuras.
 
Este conto foi inspirado na vivência com minha mãe, meu pai e meus irmãos quando éramos crianças na cidade de Lagoa Formosa – MG.