domingo, 28 de outubro de 2012

A Orfã na costura

Volto a ser criança quando leio esta poesia; parece que foi escrita por mim!
Meu pai gostava muito de recita-la para nós . . .

Minha mãe era bonita,
Era toda a minha dita,
Era todo o meu amor;
Seu cabelo era tão louro
Que nem uma fita de ouro
Tinha tamanho esplendor.

Suas madeixas luzidas
Lhe caiam tao compridas;
Que vinham-lhe os pés beijar;
Quando ouvia as minhas queixas
Em suas áureas madeixas
Ela vinha me embrulhar.

Também quando toda fria
A minha alma estremecia,
Quando ausente estava o sol,
Os cabêlos compridos,
Como fios aquecidos,
Serviam-me de lençol.

Minha mãe era bonita,
Era toda a minha dita,
Era todo o meu amor;
Seus olhos eram suaves
Como o gorgeio das aves,
Sôbre a choça do pastor.

Minha mãe era mui bela,
-- Eu me lembro tanto dela,
De tudo o quanto era seu!
Minha mãe era bonita,
Era toda a minha dita,
Em tudo e tudo meu.

Os meus passos vacilantes
Foram por largos instantes
Ensinados pelos seus.

Os meus lábios mudos, quedos,
Abertos pelos seus dedos,
Proununciaram-me -- Deus!

Mais tarde quando acordava,
Quando a aurora despontava,
Erguia-me a sua mão;
Falando pela voz dela,
Eu repetia singela
Uma formosa oração.

Minha mãe era mui bela,
-- Eu me lembro tanto dela,
De tudo o quanto era seu!
Tenho em meu peito guardadas
Suas palavras sagradas,
Co'os risos que ela me deu.

Estes pontos que eu imprimo,
Estas quadrinhas que eu rimo,
Foi ela que me ensinou;
As vozes que eu pronuncio,
Os cantos que eu balbucio,
Foi ela quem nos formou.

Minha mãe -- diz-me esta vida,
Diz-me também esta lida,
Este retroz, esta lâ;
Minha mãe! -- diz-me este canto;
Minha mãe! -- diz-me este pranto;
Tudo me diz: -- Minha mãe!

Minha mãe era mui bela,
-- Eu me lembro tanto dela,
De tudo o quanto era seu!
Minha mãe era bonita,
Era toda a minha dita,
Era tudo e tudo meu.

Luiz José Junqueira Freire
: Sua curta existência foi cheia de sofrimentos dissabores e desenganos. Nasceu na Bahia, em 31 de julho de 1822.

Para seus desgostos íntimos pensou achar remédio fazendo-se frade, mas,não encontrando na vida clausural alívio à dor que o martirizava, ao fim de três anos deixou o mosteiro.
No ano seguinte, em 24 de junho de 1855, falecia, em sua cidade natal, o malogrado poeta.
Junqueira Freire é um genuino representante do lirismo brasileiro.
Bibliografia -- Inspirações do Claustro, Contradições Poéticas,  Elementos de Retórica Nacional.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada por seu comentário!