Papai sorria quando nos dizia estas Sátiras e Epigramas.
De algumas me lembro dele falando. De outras não me recordo.
125 - Epigrama- Menina a la moda - de Joaquim Manuel de Macedo
__ "Ai, Maria! vem depressa,
Desaperta este colete!
Eu me sufoco ... ai, já temo
Estourar como um foguete!"
__ "Nhanhãzinha está tão bela!
Mas, enfim, dá tantos ais..."
__ "Oh! espera! Estou bonita?
Pois então aperte mais".
121 - Epigrama - de Domingos José Gonçalves de Magalhães, (Visconde Araguaia)
__ É verdade que da Europa
Voltaste feito doutor?
__ Parece-te isto impossível?
É verdade, sim, senhor.
__ E por qual Academia?
E qual a ciência então?
__ Isso não sei: o diploma
É escrito em Alemão.
126 - Sátira - Um calvo pretencioso - de Laurindo Rabelo
Cabeça!... que desconsolo!
Cabeça!... fôrça é dize-lo:
Por fora não tem cabelo,
Por dentro não tem miolo.
128 - Epigrama - de Lúcio de Drumond Furtado de Mendonça
A natureza tem sanções felizes;
Rodeia o mal de penas pouco leves:
Assim, tu tens de ouvir tudo o que dizes,
E tens de ler também tudo o que escreves.
119 - Epigrama - de Gregório de Matos
A um esfaimado
(A um livreiro a quem acusaram de ter comido um canteiro de alfaces)
Levou um livreiro a dente
D`alfaces todo um canteiro,
E comeu, sendo livreiro,
Desencadernadamente;
Porém eu digo que mente
A quem disso o quer taxar;
Antes é para notar
Que trabalhou como um mouro,
Pois meter folhas no couro
Também é encadernar.
Sátira - A um procurador
Com tão má gambia andas tanto,
Tanto daqui para ali!
Procurador, não me enganas:
Tu procuras para ti.
Nota:
Gambia - corrupção de gamba, palavra italiana, que significa perna.
Sátira - A um avarento - de Francisco Manuel
Fábio, ao cair da noite húmida e fria,
Do chupado carão despe a alegria:
Não porque chore o sol, do dia enfeite;
Mas porque ascende a luz, que gasta azeite.
Sátira - A moléstia e a cura - de Franciso Manuel
Aqui jaz um homem rico
Nesta rica sepultura:
Escapava da moléstia,
Se não morresse da cura.
124 - Epigrama - de Pe. Correia de Almeida
Vossemecê inda ignora
Que eu sou um homem de bem?
__ Ficarei sabendo agora!
Que data a promoção tem?
123 -Epigrama -O doutor Saracura - de Pe. Correia de Almeida
O doutor Saracura
A curar começará:
Mas enquanto ele cura,
O doente não sara.
122 - Epigrama- A um galeno - de Pe. Correia de Almeida
Um galeno foi à caça;
Encontrou um passarinho;
__ Espera lá que eu te curo...
... E matou o coitadinho...
Observação:
Epigramas - Poesia breve, satírica. Dito mordaz e picante
Sátiras - Commposição poética que visa a censurar ou ridicularizar defeitos ou vícios.
Escrito picante ou maldizente.
S.Fig. Troça, zombaria
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