O Dom da Palavra, Presença; Simplicidade; Boa Memória; Repertório; Conhecimento e muito mais.
Hoje em dia, quem quer contar histórias precisa de tudo isso, além de muito estudo e pesquisa, pois o público está cada vez mais exigente. Ser Contador de Histórias é coisa séria.
Profissão que exige disciplina, prática e muito estudo e pesquisa.
Quando, Como, Onde e Porque me tornei um contador de histórias?
Antigamente, nos anos 50 ela era uma jovem senhora e professora, com seus sete filhos, morando longe dos grandes centros, numa pequena vila sem luz elétrica, segurava sua lamparina, assentava-se a noite no fogão de lenha rodeada pelos filhos, seus sete tesouros e, descortinava histórias.
Eu lembro perfeitamente. Era muito belo este momento, pois era fascinante.
Primeiro contei causos, pois aprendi com meu pai, também um professor que passou sua vida ensinando aos seus alunos matemática e física contando causos. Eu me encantava com tudo que ele contava, pois tudo era muito divertido.
As histórias, eu não sei por que razão, deixei-as para mais tarde, quem sabe elas estavam maturando em meu subconsciente.
O fato é que eu só me dei conta de que podia contar histórias, depois que me aposentei. Tarde demais, lastimo, pois eu sabia desde pequenina naquela vila onde morava com meus pais e irmãos que seria uma contadora de histórias. Eu sentia isto quando ouvias as que minha mãe e avó contavam e, quando ouvia os causos de meu pai.
Este povo com os quais eu convivi, inventava palavras e frases, buscava palavras antigas, floreava, encantava e até colocava magia em tudo. Tenho saudades dos meus tempos de criança.
Naquele tempo ela tinha de ser realmente uma mulher sábia, pois tinha que inventar, se virar para fazer felizes os seus sete filhos, num lugar com tantas superstições, onde a vida era simples demais.
Para vocês a história que eu escrevi falando de minha mãe com seus sete filhos.
Qual
mãe brinca de pegar, esconde – esconde, correr, pular, fazer caretas e tudo
mais com seus filhos em dia de chuva? Conheço uma que fazia tudo isto.
Lembro quando criança de uma mãe que
acordava cedo, corria para o trabalho e voltava tarde, cansada e feliz! Adorava
estar junto de seus filhos que ainda são seu maior tesouro.
Tinha
uma vida simples, mas cheia de aventuras. Como entreter sete crianças dentro de
casa em dias de muita chuva, frio e vento? Ela conseguia porque, junto com os
filhos, virava criança também! Corria de um lado para outro, escondia qualquer
coisa para que procurassem, chutava bola, brincava com bonecas e o que mais
pudesse inventar para animar seus pequenos. Tudo era possível.
Os
vizinhos e sua querida companheira de todas as horas, uma jovem que a ajudava
na lida da casa, também madrinha de uma de suas filhas, observavam e deviam
pensar “Que loucura! Como ela pode fazer tudo isto?”.
Quando
chegava do trabalho o marido não queria acreditar no que estava vendo!
- Veia! - Dizia ele de maneira
carinhosa como sempre a chamava -
O que é isso? Você está louca?- Apenas brincando com nossos filhos, coitados, com chuva eles não podiam ir para o quintal! - Era a resposta que dava com um sorriso.
- Só você mesmo! - Respondia ele balançando a cabeça e olhando
para cada um dos filhos. Ficava surpreso e ao mesmo tempo feliz vendo tanta
alegria naqueles rostinhos suados. Imaginava que as brincadeiras já duravam
horas!
- Está anoitecendo - O pai, amorosamente
falava - vamos
mudar de diversão porque está na hora do meu noticiário no rádio.
A
mãe e os filhos deixavam a enorme sala e iam para a cozinha onde todos sentavam
ao redor do fogão a lenha para ouvir as histórias que ela contava. Falava sobre
reis e rainhas, príncipes e princesas, fadas e bruxas, animaizinhos e feras, assombrações,
histórias bíblicas e até alguma passagem sua do dia a dia. Ia contando,
contando até perceber os olhinhos fechando, fechando pelo sono que se
aproximava.
Como
ela se encantava com aquela cena!
Interrompia
as histórias e levava-os para o quarto. E ali ficava acariciando suavemente
cada criança até que todos dormissem. Voltava para a sala e dizia ao esposo: “Adormeceram
serenos os nossos amados filhos. Vamos dormir também. Amanhã será outro dia.”.
E
era sempre assim.
Lembro
perfeitamente de todos esses momentos. E meus irmãos também. Porque somos os
felizes filhos dessa mãe tão especial que sabia como ninguém transformar os
dias ruins em cenários de ternura, encantamento e aventuras.
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